sexta-feira, 18 de abril de 2014
hymer easter holydays
Mais um vídeo feito pela Marta das nossas mini-férias na costa vicentina.
domingo, 9 de março de 2014
coisas a acontecer por aqui
um vídeo feito pela Marta, com a Foz a conduzir-nos pelas ruas desta vila
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
folga ao jantar
Um jantar vegetariano que não precisei de fazer, porque uma adolescente prendada na cozinha resolveu pôr o avental e meter mãos à obra. Alho francês, cenoura, milho, azeitonas, tofu e lascas de amêndoa. Não sei se por estar delicioso ou pelo prazer de não ter que ter sido eu a fazê-lo... soube mesmo bem!
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
alice
foto Henri Cartier-Bresson
Seis e trinta da manhã. Acordou cedo, mas esperou deitada até que a viessem preparar para o pequeno-almoço. Às sete e trinta já estava vestida e penteada. Os cabelos brancos, presos com um gancho verde esmeralda, pendiam-lhe para o lado direito da face. Olhou para o espelho e com um gesto suave virou ligeiramente o rosto para se ver de perfil. Pediu, educadamente, que lhe colocassem os brincos de madrepérola que herdara da mãe. Desceu, pelo seu pé, para a sala de refeições e sentou-se no seu lugar à mesa. Pediu chá preto com um pingo de leite frio e comeu duas torradas com manteiga. Antes do relógio tocar as oito e trinta levantou-se, parou no bengaleiro, vestiu o casaco comprido de xadrez preto e branco, colocou o chapéu, pegou na bengala e saiu. Os seus 83 anos entropeciam-lhe o andar, por isso caminhava devagar cruzando-se com pessoas ocupadas nas suas rotinas matinais. Estava frio ainda! O nevoeiro intenso começava a desaparecer e o barulho e o movimento da cidade adensavam-se. À entrada do parque um pedaço de jornal velho esvoaçou de encontro às suas pernas. Pegou nele, colocou-o sobre um banco corrido no qual se sentou, aconchegando o pescoço com as abas do sobretudo. Fechou os olhos. Lembra-se de ter sentido um vento gélido entrelaçar-se-lhe entre os dedos e de ter resguardado as mãos nos bolsos do casaco. Notou que havia algo no bolso direito e percebeu que se tratava de um pedaço de papel amarrotado, certamente esquecido. Levantou-se Era um papel velho já amarelado, parecia uma nota de renda onde ainda se decifrava uma data: 1923. No verso, com uma letra quase tipográfica que reconheceu de imediato, estava escrito: “Não venho jantar. Amo-te. O teu que tanto te quer, Jorge”. Ficou imóvel, com o ar preso dentro de si, irrespirável. Sentiu as pernas trémulas e o peso do corpo a puxá-la para terra. Conseguiu, a custo, recostar-se no banco atirando a cabeça para trás. Não se lembra do que aconteceu depois. A única coisa de que se recorda foi de olhar para cima e ver que na torre da igreja o relógio já marcava nove e trinta.
Seis e trinta da manhã. Acordou cedo, mas esperou deitada até que a viessem preparar para o pequeno-almoço. Às sete e trinta já estava vestida e penteada. Os cabelos brancos, presos com um gancho verde esmeralda, pendiam-lhe para o lado direito da face. Olhou para o espelho e com um gesto suave virou ligeiramente o rosto para se ver de perfil. Pediu, educadamente, que lhe colocassem os brincos de madrepérola que herdara da mãe. Desceu, pelo seu pé, para a sala de refeições e sentou-se no seu lugar à mesa. Pediu chá preto com um pingo de leite frio e comeu duas torradas com manteiga. Antes do relógio tocar as oito e trinta levantou-se, parou no bengaleiro, vestiu o casaco comprido de xadrez preto e branco, colocou o chapéu, pegou na bengala e saiu. Os seus 83 anos entropeciam-lhe o andar, por isso caminhava devagar cruzando-se com pessoas ocupadas nas suas rotinas matinais. Estava frio ainda! O nevoeiro intenso começava a desaparecer e o barulho e o movimento da cidade adensavam-se. À entrada do parque um pedaço de jornal velho esvoaçou de encontro às suas pernas. Pegou nele, colocou-o sobre um banco corrido no qual se sentou, aconchegando o pescoço com as abas do sobretudo. Fechou os olhos. Lembra-se de ter sentido um vento gélido entrelaçar-se-lhe entre os dedos e de ter resguardado as mãos nos bolsos do casaco. Notou que havia algo no bolso direito e percebeu que se tratava de um pedaço de papel amarrotado, certamente esquecido. Levantou-se Era um papel velho já amarelado, parecia uma nota de renda onde ainda se decifrava uma data: 1923. No verso, com uma letra quase tipográfica que reconheceu de imediato, estava escrito: “Não venho jantar. Amo-te. O teu que tanto te quer, Jorge”. Ficou imóvel, com o ar preso dentro de si, irrespirável. Sentiu as pernas trémulas e o peso do corpo a puxá-la para terra. Conseguiu, a custo, recostar-se no banco atirando a cabeça para trás. Não se lembra do que aconteceu depois. A única coisa de que se recorda foi de olhar para cima e ver que na torre da igreja o relógio já marcava nove e trinta.
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