segunda-feira, 22 de abril de 2013

pequenas coisas em dias extraordinários




Gosto de fotos antigas. De fotos de família. De dias grandes. De dias de sol. De piqueniques nos dias de sol. Gosto do mar. Gosto do cheiro da flor de laranjeira. Gosto que me ofereçam livros. E de oferecer livros. Gosto de tiramisú e de bolo de bolacha. Gosto quando me dizem que somos parecidas. Gosto de festas de anos. E de cantar os parabéns. Gosto de inventar histórias. E de escrever histórias inventadas.

22 de Abril de 1960. Estava um bonito dia, mas aquela hora da manhã já se sentia um calor um tanto ou quanto excessivo. O pai conduzia o velho carro com a janela aberta, deixando entrar uma brisa morna que lhes fustigava a cara. No banco de trás as quatro conversavam e riam. Por vezes havia uma que soltava um grito estridente, uma zanga era iniciada ou elevavam-se as gargalhadas. Nessas alturas o pai, com voz grave e usando apenas três ou quatro palavras, impunha silêncio e a calma regressava. Viajaram durante horas. Quando pararam, a mãe estendeu a manta no chão e tirou o farnel. Num dos cestos trazia um grande pão de ló onde colocou cuidadosamente as velas. E a aniversariante apagou-as todas, de um só fôlego, depois de entoado o "Hoje é dia de festa, cantam as nossas almas".  Durante a tarde a filha mais velha ficou indisposta e foi descansar para o carro. O pai, a mãe e as outras filhas resolveram ir dar um passeio junto ao mar, apreciando a quietude daquela terra selvagem. Já tarde, noite escura, no regresso a casa a aniversariante ainda comentou antes de adormecer "foi um belo dia, este".

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