Quando éramos miúdas costumávamos ir acampar nas férias. O meu pai tinha transformado uma antiga Toyota Hiace numa auto-caravana, que usámos durante anos a fio no Verão. No interior, o espaço era aproveitado ao máximo - mesas que se transformavam em camas, imensas gavetas e arrumos, módulos que podiam ser removidos e instalados cá fora. Existia também uma sanita química, um chuveiro de exterior que se podia pendurar nas árvores, toldo, cadeiras, geleira. Enfim, uma mini-casa móvel que ao longo do tempo ía sofrendo adaptações e up-grades para se ajustar às nossas necessidades de auto-caravanistas amadores. Lembro-me dum ano em que o meu pai fixou um estrado por cima do tejadilho da carrinha e era aí que montávamos a tenda canadiana (uma daquelas azuis e laranja dos anos 80) onde eu e a minha irmã dormíamos. Um género de uma autocaravana-duplex de dois andares... Essa Toyota (já muito velhinha) ainda foi usada nas nossas primeiras férias com as miúdas pequenas (aquela na foto é a Maria, devia ter uns 3, 4 anos), mas depois foi vendida. Mais tarde veio uma Fiat Ducato toda preparadinha de origem, com casa de banho independente e chuveiro e esquentador, e tudo e tudo! Mas desta guardo menos recordações e muito poucas histórias. Depois, durante muitos anos, as autocaravanas andaram esquecidas. Até agora! De há uns meses para cá dei por mim a pesquisar modelos, preços, comparar especificações, quantos lugares de livrete, quantas dormidas, o tipo de motor, se 1,9, 2,5 ou 2,9, o ano de matrícula, o nº de Kms, se a montagem é Hymer-Eriba ou Karmann ou Burstner. Todos os dias ao serão, mesmo antes de deitar, a mesma rotina: pesquisar as últimas novidades de auto-caravanas usadas, escolher, enviar e-mails a pedir mais fotos, colocar de lado. Tenho listas organizadas por preços e modelos, hoje acrescento mais uma, amanhã retiro outra que já não está disponível, porque foi vendida.. Às vezes penso que nunca vou chegar a ter uma, que vou continuar a passar os serões neste jogo da procura da auto-caravana perdida, neste faz-de-conta sem fim, numa espécie de catarse para expurgar os desvarios do dia.
É bem capaz de existir uma teoria qualquer da psicanálise que explique estas coisas...
É bem capaz de existir uma teoria qualquer da psicanálise que explique estas coisas...